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Texto convite... por Leandro Tafuri

Em tempos de pandemia, vive-se momentos de emotividade completa. Em seu texto, Leandro reitera o convite à leitura de livros que nos acompanham a vida toda.

Por: admin

- 11/05/2020 10h26

Dupla delícia

O livro traz a vantagem de a gente poder estar só
e acompanhado ao mesmo tempo.
(Mario Quintana)

Em tempos de pandemia, vivemos momentos de angústia, apreensão e também momentos de emotividade completa. Conectamo-nos ao outro a distância. A interatividade se dá, agora de modo obrigatório, por meio da tecnologia.

O verbo “compartilhar” tem sido muito empregado, afinal de contas, compartilhamos opiniões, estudos, generosidade, medos, solidariedade, memórias… E o convite que dá título a este texto refere-se a essas memórias, às minhas memórias literárias… às suas memórias…

Como estudantes e professores, temos compartilhado leituras e, recentemente, ao preparar uma aula, deparei-me com uma citação do grande escritor Moacyr Scliar, na qual ele mencionava o fato de, depois de adulto, garimpar em sebos livros que marcaram sua infância e contribuíram para sua formação enquanto leitor, e certamente como escritor.

Em um exercício de rememoração, obviamente que muito modesto comparado ao autor, pus-me a buscar as leituras que marcaram minha infância e juventude e descobri nas obras de Marcos Rey minha leitura preferida, uma vez que li inúmeras delas na inesquecível Série Vagalume. Seus romances, a maioria de grandes casos policiais, traziam personagens jovens (daí a imediata identificação) envoltos em mistérios e perigos: Léo, o mensageiro de um hotel cinco estrelas, que se depara com um cadáver embaixo de uma cama em O mistério do cinco estrelas; e Júlio e Ruth que são perseguidos por traficantes de drogas em Doze horas de terror. Estes e tantos outros de tirar o fôlego…

Remexendo ainda mais neste baú, reencontrei-me com Marcelo, aquele da Ruth Rocha. Marcelo, Marmelo, Martelo e outras histórias traz a inquietação de um menino com o nome das coisas. E o que pensar da inteligência de um sabugo de milho e as artimanhas de uma boneca de pano faladeira?! Uma emoção, uma aventura, uma alegria a cada parágrafo no bom e velho Sítio do Picapau Amarelo.

Mas também me emocionei, e muito, com o livro de Ganymedes José, Tiana coragem, no qual a personagem título do livro sofre desde cedo com a morte da mãe e, depois, com um casamento infeliz. E o que falar de Marta e os desafios da vida no corte de cana-de-açúcar, na obra de Luiz Puntel, Açúcar Amargo. Poderia mencionar ainda as aventuras (nada) cavaleirescas de D. Quixote e seu fiel escudeiro Sancho Pança, de Miguel de Cervantes; as andanças de Geraldo Viramundo, em O Grande Mentecapto, de Fernando Sabino; a história quase proibida de ser publicada de Emma Bovary, em Madame Bovary, de Gustave Flaubert.

Antes, o que encantava eram as narrativas, as histórias, as personagens, a tensão, o divertimento. Hoje, a linguagem, o uso do idioma, a literatura, como indica Andruetto (2017), buscando o “palpitar particular da língua, em seu permanente e instável movimento”. As metáforas, as ironias, as construções textuais que corroboram para que a leitura seja uma atividade complexa, plural, que se desenvolve em diversas direções. Jouve (2002), ao buscar responder à pergunta “o que é leitura?”, o faz a partir de cinco dimensões. A que é mais cara para mim, neste momento, é a leitura enquanto um processo afetivo, pois, segundo o autor, “o charme da leitura provém em grande parte das emoções que ela suscita”.

Reitero aqui o convite à leitura… aos livros, estes seres que nos acompanham por uma vida inteira!


Referências:
ANDRUETTO, María Teresa. A leitura, outra revolução. São Paulo: Edições SESC, 2017.
JOUVE, Vincent. A leitura. São Paulo: Editora Unesp, 2002.


Leandro Tafuri
Graduado em Jornalismo pela Universidade Estadual do Centro-Oeste
Graduado em Letras Literatura pela Universidade Estadual do Centro-Oeste
Especialista em Letras pela Universidade Estadual de Maringá
Especialista em Dislexia e Distúrbios da Leitura e da Escrita pela Universidade de Araraquara
Mestre em Letras pela Universidade Estadual do Centro-Oeste