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O ‘poder’ da falseabilidade na ciência, por Marcos Brasil

Por que comprovar uma “ideia” (hipótese), se podemos falseá-la?

Por: Poliana Kovalyk

- 28/09/2023 09h35

Por que comprovar uma “ideia” (hipótese), se podemos falseá-la? Essa é questão central na teoria da falseabilidade de Karl Popper. Nascido em 1902, em Viena-Áustria, ele destaca que o conhecimento acompanha a história da humanidade, pois desde que o ser humano despontou, a curiosidade em descobertas constitui uma condição que ao mesmo tempo nos universaliza e nos particulariza. 

Dentre as várias formas de conhecimento produzidas, tem-se a ciência, reconhecida como a mais sistemática e sistematizada forma de obtenção da verdade por meio de aproximação (POPPER, 1982). Na ciência muito se acreditou que as concepções científicas se davam por meio de induções e observações, ou seja, como se os fenômenos derivassem de baixo para cima a partir das observações do cosmos, de modo a se estabelecer teorias universais. 

Contudo, hoje sabemos que a lógica científica é inversamente ao descrito, que nossas cosmovisões irão gerar as condições necessárias para entender os modos como o mundo efetivamente funciona e de que maneira cada coisa se comporta, no geral e no particular. Em outras palavras, a teoria da falseabilidade acredita que a ciência se move das cosmovisões gerais aos aspectos particulares e destes novamente para o geral (POPPER, 1983 [1987]). Desse modo, para Popper (1982) a ciência é aberta, provisória e avança pelo método de conjecturas/refutações na direção de buscar “apenas” aproximações da verdade, no sentido de refutar e não corroborar uma hipótese.

Um exemplo claro de visualizar tal “poder” da falseabilidade é quando observamos a teoria de Isac Newton sobre a Teoria da Gravitação Universal, que por muito tempo foi dita como “verdade”, ou seja, os cientistas acreditam e tinham como referência. Algum tempo depois, a Teoria de Newton foi refutada por Albert Einstein, com a Teoria da Relatividade, que demonstrou que a mecânica newtoniana não era válida em velocidades próximas a da luz. Assim, hoje verificamos que a teoria de Einstein é mais “válida”, ela é constantemente submetida a teste, no sentido de encontrar um erro e refutá-la. Porém, quanto mais ela é testada, mais ela se conversa preservada. 

Nessa linha de pensamento, somente uma utopia científica levaria a acreditar que podemos comprovar e provar tudo. Não há como negar que avançamos consideravelmente em termos científicos e de acúmulo de descobertas. Não obstante, há muitos objetos de estudos a serem explorados, melhor compreendidos ou melhor delineados, afastando-se daquilo que o autor denominou como pseudociência, algo dogmático, profissão de fé, um sistema de conhecimento não-falseável. 

No processo científico, quando estamos perto de comprovar uma teoria, muito provavelmente estamos sujeitos a um dogmatismo ou a uma regressão infinita de fundamentação. Para Popper (1987), no fazer científico o investigador está convivendo com os prenoções e não há como fugir desse processo. Pelo contrário, elas são parte constitutiva da atividade científica e precisam ser objetivadas. Nesse sentido então, devemos reconhecer que os resultados são provisórios e que sempre podemos revisitar os nossos resultados e, ao fazer isso, criar novas visões e novos questionamentos, se afastando de toda espécie de dogmatismo que aceita e reproduz como satisfatórios determinados enunciados básicos, pelo fato de sempre podermos submetê-los a novos testes, com novos equipamentos ainda mais tecnológicos.

Contudo, o próprio Popper (1997) nos alerta que mesmo as teorias científicas, por mais elaboradas, espetaculares e bem-sucedidas no meio acadêmico, devem ser hipóteses e que, jamais, devem e podem ser definitivamente estabelecidas. A essência do fazer científico, para Popper, manifesta-se por meio da proposição de conjecturas e de sua incansável renovação, fundamentado na adoção e aceitação dos erros e no progresso com respeito à verdade.

Por fim, destacamos a frase do cientista Carl Sagan: “A ciência está longe de ser um instrumento perfeito de conhecimento. É apenas o melhor que temos” (SAGAN, 2006, p. 45). 
 

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